QUEM É HILLARY CLINTON?

Quem é a Hillary Clinton que a imprensa não mostra?

Por: Bruno Garschagen em 09/08/16
“Não só Wall Street apoia em peso Hillary.  A mídia, mormente o New York Times também”.

 

Quanto mais se publica reportagens sobre Hillary Clinton, mais fica difícil descobrir quem é, o que pensa e os riscos de uma eventual presidência sob o seu comando. Porque tratar da candidata do Partido Democrata à presidência dos Estados Unidos é quase sempre um pretexto para demonizar Donald Trump (com a valiosa colaboração dele próprio) e atacar a parcela da sociedade americana que se vê representada no discurso dele. Não é preciso, portanto, defender Donald Trump para considerar Hillary Clinton uma candidata ideológica e politicamente perigosa.

Para início de conversa, no âmbito político, as relações de Hillary e de seu marido Bill com os banqueiros de Wall Street são suficientes para que ela e seu futuro governo sejam colocados sob suspeita.

Em 2013, Hillary recebeu US$ 3,15 milhões por palestras contratadas por bancos como UBS, Goldman Sachs, Deutsche Bank e Morgan Stanley. Ela, inclusive, passou a ganhar mais do que o marido. Um exemplo: O Goldman Sachs pagou US$ 200 mil para Bill por palestra em junho de 2013 e US$ 225 mil para Hillary em outubro do mesmo ano. O problema é que oito meses antes de ter recebido o pagamento, Hillary ainda era secretária de Estado, o cargo mais importante da administração depois do presidente. No total, Hillary recebeu cerca de US$ 10 milhões por ano por palestras proferidas em 2013 e em 2014.

Segundo o Center for Responsive Politics, os bancos JPMorgan, Goldman Sachs, Citigroup e Morgan Stanley estavam entre os maiores doadores de sua campanha para presidente em 2008. Esses mesmo bancos, representantes legítimos de Wall Street, foram quatro dos cinco principais doadores durante todo o período em que Hillary ficou no Senado.

Talvez isso explique por que Wall Street apoia em peso Hillary, que, no ano passado, apresentou o tão aguardado plano de reforma do sistema financeiro. Este foi, curiosamente, elogiado pelos banqueiros e criticado por Bernie Sanders, seu ex-adversário na disputa interna do partido Democrata para a nomeação presidencial. Por que será que a elite financeira americana, incluindo investidores como Michael Bloomberg, Warren Buffet, George Soros, apoiam o Partido Democrata há décadas? E como vocês acham que uma candidata financiada por Wall Street vai agir diante de problemas no sistema financeiro? Ela vai adotar medidas duras contra os seus amigos e financiadores?

Além disso, no período em que Hillary foi secretária de Estado, seu marido Bill recebeu US$ 48 milhões de entidades com negócios nos Estados Unidos ou com interesses políticos no país.

O enriquecimento do casal é algo impressionante mesmo para os padrões dos Estados Unidos, pois, prosperidade assim, só se vê em empreendedores, criadores, executivos, enfim, em profissionais que atuam na iniciativa privada. Hillary já havia admitido, inclusive, que o casal estava endividado em 2000 quando o marido deixou o governo. Num período de 15 anos, porém, construíram uma expressiva fortuna de US$ 200 milhões. Há, inclusive, um documentário sobre o tema que vale a pena assistir: Clinton Cash – A História Não Contada da Fortuna dos Clinton.

Hillary renunciou ao cargo de secretária de Estado do governo Obama após o ataque contra o posto diplomático americano em Benghazi, na Líbia. O atentado matou o embaixador Christopher Stevens e mais três funcionários em 11 de setembro de 2012. Embora não tenha sido formalmente responsabilizada pelas falhas de segurança, Hillary teve que dar explicações diante de uma comissão do Congresso formada para investigar o caso. A comissão apontou falhas recorrentes e deficiências na liderança e na gestão por parte do departamento de Estado. Na convenção republicana que ratificou o nome de Donald Trump, Pat Smith, mãe de um dos funcionários mortos em Benghazi, responsabilizou diretamente Hillary pela morte do filho. “Eu culpo Hillary Clinton. (…) Como ela pôde fazer isso comigo?”.

Há um filme recente sobre o atentado chamado “13 horas: os soldados secretos de Benghazi”, que, dentro da programação do CineClube Contexto, será exibido no dia 29 de agosto no Cine Odeon. Após a exibição, haverá um bate-papo em que estaremos eu, o publicitário Alexandre Borges e o blogueiro Felipe Moura Brasil.

A incompetência de Hillary não se resumiu à Benghazi. Sua avaliação equivocada acerca de eventos internacionais também marcou a sua atuação como secretária de Estado. Antes da Primavera Árabe, por exemplo, que teve de tudo menos flores, Hillary declarou oficialmente a estabilidade do governo de Hosni Mubarak, antigo aliado do governo americano. Logo em seguida, quando a vaca tinha ido para o brejo, ela defendeu a transição ordenada para um governo democrático. Como confiar numa presidente que titubeia em situações delicadas e extremas na esfera internacional?

Nas relações exteriores, Hillary segue certa tradição intervencionista do Partido Democrata exposta no livro “America Between Wars”, de Derek Chollet e James Goldgeier. Relembrar é preciso: na disputa presidencial de 2000, Al Gore representava o Falcão intervencionista democrata que desejava espalhar a influência dos Estados Unidos no mundo na esteira da atuação expansionista de Bill Clinton; e George W. Bush era o republicano que via com preocupação as consequências em cascata das ações do governo americano no exterior (p. 281), posição contrária a de certa ala dos neoconservadores que ele adotou após os ataques terroristas de 11 de setembro de 2001.

Esse perfil da candidata do partido Democrata é confirmado por Julian Assange, fundador do Wikileaks. Ele afirmou que a leitura de milhares de telegramas diplomáticos assinados pela então secretária de Estado mostra que a falta capacidade de julgamento de Hillary, caso ela seja eleita, “empurrará os Estados Unidos em direção a conflitos infinitos”.

Hillary Clinton assume bandeiras de acordo com a conveniência política do momento. Na campanha presidencial de 2008, contra o legado presidencial do próprio marido, “adotou uma retórica cética em relação ao livre mercado, incluindo críticas ao NAFTA” (“America Between Wars”, p. 320). No caso do contrato civil entre pessoas do mesmo sexo, Hillary afirmou em 2004 que acreditava que o “casamento era um vínculo sagrado entre homem e mulher”. Só em 2013, ela passou a apoiar a união civil, mas as suas declarações públicas sobre a comunidade LGBT são consideradas hesitantes. Ela mudou de ideia? Pode ser. Porém, o mais provável é que ela tenha aproveitado o momento para defender uma agenda que dá votos no presente contra uma posição que dava votos no passado.

Qual será a agenda e escolhas políticas de Hillary se ela for eleita? Tudo dependerá do que for politicamente vantajoso para ela?

Essas mudanças de posição e de agenda de Hillary também podem ser explicadas sob o ponto de vista ideológico. Hillary foi profundamente influenciada por Saul Alynski, ideólogo socialista e ativista político radical que trabalhou durante anos para o Partido Comunista de Chicago e que também exerceu grande influência sobre Barack Obama. Alynski defendia a tese marxista da propriedade estatal dos meios de produção, mas, como intelectual pragmático da extrema esquerda, não achava que tal finalidade poderia ser atingida por meio de uma revolução violenta. Ele defendia um trabalho lento, feito em partes, baseado numa organização paciente de esforços no âmbito local para se atingir os objetivos, mesmo que estes demorassem gerações para serem realizados.

Na década de 1960, Hillary fazia parte de um grupo de estudantes de esquerda que não apenas seguiu, mas atualizou (e de certa forma modificou), os ensinamentos de Alynski. Ela, inclusive, estudou o primeiro livro de Alynski, “Reveille for Radicals”, em seu trabalho final de graduação. Sua conclusão sintetizava a sua própria expectativa: se as ideias de Alynski fossem atualizadas, o resultado seria uma revolução social.

No livro “Rules for Radicals”, Alynski ensinava a importância de trabalhar dentro do sistema. E que, para realizar qualquer mudança revolucionária, era preciso, antes de tudo, adotar “uma atitude passiva, afirmativa e não-confrontadora” para produzir uma mudança na sociedade (p. 15). Isto porque “as pessoas não gostam de sair bruscamente da segurança da experiência familiar. Elas precisam de uma ponte para fazer a travessia de sua própria experiência para uma nova. Um militante revolucionário deve sacudir os padrões vigentes de suas vidas – agitar, provocar desencanto e descontentamento em relação aos valores atuais, e produzir, se não uma paixão pela mudança, pelo menos um clima passivo, afirmativo e que não seja confrontador” (p. 18).

Hillary agregou as lições de Alynski para realizá-las desde dentro do sistema político. Num artigo para a National Review, Stanley Kurtz afirmou que a proposta da Nova Esquerda da qual Hillary fazia parte representava uma mudança de meios não de fins – em relação à estratégia de Alynski. “A crença de Hillary nos objetivos de Alynski, e sua vontade de adaptá-los e adotá-los num contexto político, mantiveram-se fortes”.

Os instrumentos à disposição do governo são os meios para, inclusive, modificar a cultura de cima para baixo. A declaração de Hillary numa conferência sobre feminismo revela a estratégia: “Os códigos culturais profundamente enraizados, as crenças religiosas e as fobias estruturais precisam mudar. Os governos devem empregar seus recursos coercitivos para redefinir os dogmas religiosos tradicionais”. São esses dogmas que, por exemplo, são um obstáculo ao aborto, que a candidata do Partido Democrata apoia publicamente – além de ajudar a conseguir recursos para a Planned Parenthood, “a maior multinacional do aborto”.

Se Hillary vencer a eleição, outro grande vitorioso será o socialista Alynski, que terá feito a cabeça de dois sucessivos presidentes americanos.

Hillary Clinton é a candidata do establishment, dos “moderados” e dos que veem em Trump um perigo ainda maior do que ela. O ótimo satirista conservador americano P. J. O’Rourke declarou numa entrevista que Hillary era “a segunda pior coisa que poderia acontecer aos Estados Unidos. Ela está, porém, em segundo lugar e muito atrás (de Trump). Ela está absolutamente equivocada acerca de tudo, mas dentro dos parâmetros normais“. Hillary seria, então, a alternativa mais sensata frente a Donald Trump, tido como o louco que vai botar fogo no celeiro.

Não há qualquer problema em considerar Trump, que nunca foi conservador nem pertencia ao Partido Republicano, uma escolha de alto risco. E a cada dia sabemos mais um pouco quem ele é – apesar do péssimo trabalho da imprensa ao preferir destruir sua reputação em vez de apontar seus muitos problemas como candidato e as suas posições políticas anticonservadoras claramente alinhadas com as do governo Obama (aumento do tamanho do governo e dos gastos estatais, intervenções variadas, estímulos artificiais na economia, ajuda a grandes empresas etc.).

Dois exemplos de ótimo trabalho jornalístico e analítico: o desempenhado pela já citada revista americana National Review, que publicou em janeiro uma edição especial cujo título resumiu sua posição editorial e a de notáveis conservadores: “Contra Trump”; e o realizado pela revista inglesa Spectator.

Se a grande imprensa – e não só a americana – precisa mentir ou distorcer as falas e os fatos para atacar Trump é o sinal evidente de que algo grave também acontece no jornalismo, e não apenas na política. O canadense Stephan Molyneaux tem mostrado uma parte substantiva do problema no site “As mentiras contra Donald Trump”.

No entanto, o ponto tão ou mais grave é desconsiderar o perigo representado por Hillary. Porque, com a ajuda da grande imprensa, a cada dia sabemos menos quem ela é e o tamanho do estrago que ela pode causar – e não só nos Estados Unidos.

Donald Trump ou Hillary Clinton? Que Deus abençoe a América.

http://extra.globo.com/noticias/brasil/sem-mimimi/quem-a-hillary-clinton-que-imprensa-nao-mostra-19888631.html

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